PL do governo Doria retira fundos de reserva de universidades

Por Julia Marinho

01/09/2020 - 00:302 min de leitura

PL do governo Doria retira fundos de reserva de universidades

Fonte :  TV Globo/Abrahão Cruz/Reprodução 

Imagem de PL do governo Doria retira fundos de reserva de universidades no tecmundo

Chamado pelo governo paulista de "Programa de Modernização Administrativa", está em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) o projeto de lei (PL) 529/2020 que propõe, em seu artigo 14, a transferência, ao fim de cada ano, do superávit financeiro (isso é, o dinheiro excedente em caixa) de três universidades públicas e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para o Tesouro estadual.

A medida poderá inviabilizar a maior parte das pesquisas em andamento – a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), juntas, respondem por 40% da pesquisa científicas nacional.

Elaborado para levantar dinheiro e conseguir tapar o rombo no orçamento do estado para 2021 (estimado em R$ 10,4 bilhões), o PL levantou protestos da comunidade acadêmica não apenas no Brasil como no exterior. O governo do estado justifica a transferência argumentando que a pandemia causada pelo novo coronavírus corroeu as finanças do estado – mas as universidades apontam que o projeto determina a transferência financeira “todos os anos”.

Estudantes protestaram em frente à Alesp na última quarta (26).Estudantes protestaram em frente à Alesp na última quarta (26).

"Esses fundos não são ‘excedentes’, são reservas financeiras usadas para o fomento das pesquisas em andamento; esses projetos necessitam dos recursos ao longo de seu desenvolvimento, que ultrapassam um ano", disse o professor da USP e diretor-executivo da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp), Adriano D. Andricopulo.

Reservas compensam queda na arrecadação

A comunidade científica vai além, argumentando que pesquisas não têm prazo certo para acabar. A Fapesp, por exemplo, financia projetos que duram de dois a 11 anos, mas os pesquisadores não recebem a verba adiantadamente e sim, em prestações, ao longo do trabalho. Mesmo com um caixa de R$ 569 milhões, a instituição tem, comprometidos com projetos de pesquisas, bolsas e outros programas, R$ 1,6 bilhão.

Não apenas as pesquisas em andamento seriam afetadas. As verbas que as universidades recebem vêm da arrecadação estadual. Há anos as instituições usam suas reservas para compensar a diminuição desse repasse. A Unicamp, por exemplo, vem usando suas reservas nos últimos anos para isso: se há seis anos o excedente chegou a R$ 623,8 milhões, em fins de 2019 ele somava R$ 48 milhões.

Veja também