Pesquisadores sequenciam DNA de mamute de 1,2 milhão de anos

Por Julia Marinho

20/02/2021 - 00:302 min de leitura

Pesquisadores sequenciam DNA de mamute de 1,2 milhão de anos

Fonte :  Centre for Palaeogenetics/Beth Zaiken/Divulgação 

Imagem de Pesquisadores sequenciam DNA de mamute de 1,2 milhão de anos no tecmundo

Em 1970, o paleontólogo russo Andrei V. Sher encontrou, na terra eternamente congelada da Sibéria (chamada por isso de permafrost) restos mortais de inúmeros mamutes; um deles, os pesquisadores estimaram que havia morrido há 1,2 milhão de anos. Foi preciso meio século para que pesquisadores recuperassem o que de mais precioso esses restos guardavam: seu DNA, o mais antigo do mundo.

"Esta é a primeira vez que o DNA de espécimes de milhões de anos foi sequenciado e autenticado, e extraí-lo dos dentes molares foi um desafio", disse o paleontólogo e geneticista evolutivo Love Dalén, do Centro de Paleogenética, ligado ao Museu Sueco de História Natural e à Universidade de Estocolmo. Os outros dois mamutes cujo DNA foi analisado têm um milhão e 700 mil anos.

Os dentes do mamute de 1,2 milhão de anos, uma espécie até agora desconhecida.Os dentes do mamute de 1,2 milhão de anos, uma espécie até agora desconhecida.

Mesmo que “mamute” seja para muita gente o Manny de A Era do Gelo, existiram 17 espécies por todo o planeta – Manny era um mamute imperador, frequentemente confundido com o mamute columbiano, que habitou a América do Norte durante a última era glacial, enquanto o mamute lanudo andava por onde hoje é o Canadá. Há um milhão de anos, porém, nenhum deles existia. Na Sibéria, havia apenas o mamute das estepes – ao menos, era o que se pensava.

Único das Américas

"Foi uma completa surpresa: nossas análises de DNA mostram que havia duas linhagens genéticas diferentes", diz o autor principal do estudo, o geneticista e evolucionista Tom van der Valk, acrescentando que esse animal pode ter sido o único de seu gênero a habitar as Américas por muito tempo.

A nova espécie recebeu o nome de mamute Krestovka, por ter sido encontrado perto desse pequeno vilarejo siberiano; os pesquisadores acreditam que a nova espécie divergiu da linhagem então predominante há mais de dois milhões de anos.

O mamute Krestovka.O mamute Krestovka.

Foram necessárias condições especiais para que o DNA sobrevivesse para ser analisado pela equipe internacional de pesquisadores, liderada por geneticistas da sueca Universidade de Uppsala. De humanos, o mais antigo já sequenciado tem 15 mil anos; de neandertais, 120 mil anos, enquanto de um animal o recorde vai para um ancestral do cavalo, que correu sobre o que hoje é o solo congelado do território canadense de Yukon há 700 mil anos.

Tesouro de fósseis

O permafrost (o congelamento profundo da terra) retarda a degradação química daqueles que terminam sepultados nela. Mesmo assim, obter DNA dos espécimes é trabalhoso: no caso dos três mamutes, os pesquisadores extraíram amostras do dente molar de cada um (dois gramas de material). 

O material genético estava, porém, degradado em bilhões de sequências, curtas e fragmentadas. Para montá-las, foi usado o genoma de um elefante africano (um parente próximo), o que terminou por alinhar todos os pedaços de DNA na ordem correta.


Ao comparar os três genomas com o do mamute columbiano, que andou sobre a Terra até 12 mil anos, os pesquisadores descobriram que ele resultou do cruzamento do mamute lanoso com a nova linhagem desconhecida. "Ninguém sabe onde e por quanto tempo essa nova linhagem de mamutes prosperou. Seria incrível se descobríssemos mais espécimes desta linhagem”, disse van der Valk.

Para Love Dalén, “há também a possibilidade de reconstruir DNA cada vez mais antigo. Não recriaremos Jurassic Park, mas modelos teóricos sugerem que o DNA pode sobreviver por até alguns milhões de anos. Acho que ainda não chegamos a um limite”.

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