Médico atingido por raio se 'transformou' em pianista

Por André Luiz Dias Gonçalves

01/06/2021 - 15:002 min de leitura

Médico atingido por raio se 'transformou' em pianista

Fonte :  BBC/Reprodução 

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As chances de uma pessoa sobreviver ao ser atingida por um raio são de apenas 2%, de acordo com o Ministério da Saúde. O acidente pode causar graves queimaduras e danos ao coração, pulmões, sistema nervoso e outras partes do corpo, deixando várias sequelas quando não leva à morte.

Mas para o médico americano Tony Cicoria, o contato com a descarga elétrica recebida durante uma queda de raio em 1994 terminou diferente. Ele não só sobreviveu sem apresentar problemas, como a sua vida se transformou depois do acidente, ficando apaixonado por música erudita, algo improvável até então.

Tony é um ortopedista que tinha 42 anos de idade e vivia em Oneonta, no estado de Nova York (Estados Unidos), naquele ano. Em entrevista à BBC, ele contou que trabalhava de 12 a 14 horas por dia, sete dias por semana, na época da experiência de quase morte.

Acidentes com raio são bastante perigosos.Acidentes com raio são bastante perigosos.

No entanto, sua rotina de atendimento em clínicas e hospitais não foi mais a mesma. Os instrumentos cirúrgicos passaram a dividir espaço com partituras e um piano, sua nova paixão, que surgiu misteriosamente pouco tempo depois do “encontro” com o relâmpago. Ele, que antes não se interessava por música, acabou aprendendo a tocar e a compor.

A "Sonata do raio"

O acidente com o raio que levou Cicoria a adquirir uma afinidade incomum pela música ocorreu durante um piquenique às margens do Lago Sleepy Hollow. Ao usar o telefone público do local, ele foi atingido por um raio e desmaiou, mas uma enfermeira que estava na fila para ligar realizou, imediatamente, os procedimentos de ressuscitação.

Antes de acordar confuso e sentindo uma dor extrema, o ortopedista relata ter visto o próprio corpo no chão. Sem ferimentos graves, ele recusou atendimento médico e se recuperou em casa, voltando ao trabalho duas semanas depois. Foi aí que começou a sentir uma enorme vontade de ouvir música de piano.

Isso o fez comprar um CD com músicas de Chopin e ouvi-lo sem parar. E a situação piorou quando Cicoria sonhou que subia ao palco e tocava uma música desconhecida. Esta canção, que não saía de sua cabeça, o fez ficar fora de controle e totalmente obcecado, chegando a resultar em problemas com a família.

Anos depois, em 2008, o homem atingido por um relâmpago finalmente mostrou ao mundo a música que ouviu pela primeira vez enquanto sonhava. Composta ao longo de sete meses, a canção “Lightning Sonata” (“Sonata do raio”, em tradução livre), disponível no vídeo acima, foi apresentada em um concerto no teatro da Universidade Estadual de Nova York.

O que diz a ciência

O caso de Tony Cicoria chamou a atenção em todo o mundo e passou a ser estudado por muitos cientistas. Uma das pessoas que se interessou pela história foi o neurologista Oliver Sacks, cujas investigações sobre o médico atingido por um raio foram detalhadas no livro Alucinações Musicais (2007).

Tentando explicar o acontecimento, Sacks teorizou, certa vez, que Cicoria tinha “habilidades latentes” que foram ativadas quando ele recebeu a descarga elétrica. A partir do evento, o cérebro do médico reorganizou estas informações, levando-o a adquirir novos conhecimentos até então adormecidos em sua mente.

O caso de Tony Cicoria desafia a ciência.O caso de Tony Cicoria desafia a ciência.

Respeitando as teorias de Sacks e outros pesquisadores, Cicoria tem uma visão diferente e diz que a ciência não pode explicar o acontecido. O agora pianista também compara a obsessão por música surgida após o acidente com a de um viciado em drogas, mas afirma ter conseguido controlar a compulsão por tocar piano.

Depois de lançar um disco em 2008, atualmente ele mescla os trabalhos na medicina e na música, além de contar a sua incrível história em entrevistas e palestras.


Por André Luiz Dias Gonçalves

Especialista em Redator

Jornalista formado pela PUC Minas, escreve para o TecMundo e o Mega Curioso desde 2019.


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