Entenda por que a Samsung não é mais responsável pela linha Nexus da Google

Por Felipe Gugelmin Valente

28/08/2013 - 15:384 min de leitura

Entenda por que a Samsung não é mais responsável pela linha Nexus da Google

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Imagem de Entenda por que a Samsung não é mais responsável pela linha Nexus da Google no site TecMundo

Nexus 10 da Samsung (Fonte da imagem: Divulgação/Google)

No dia 9 de agosto, a Google revelou ao mundo que a ASUS vai ser a responsável pela produção da nova versão do tablet Nexus 10, até então fabricado pela Samsung. A notícia não chegou a causar espanto, visto a popularidade obtida pelo Nexus 7, produto que combinava hardware potente com preço acessível.

Porém, é preciso notar que a decisão da Gigante das Buscas não se deve meramente ao histórico entre as empresas ou à oferta de preços feita pela ASUS. A mudança tem como objetivo não só renovar a imagem pública do produto como assegurar a manutenção do mercado de dispositivos Android como o conhecemos.

Neste artigo, explicamos por que a decisão da Google pode servir como uma forma de equilibrar o mercado e assegurar a sobrevivência de uma divisão importante da empresa. Confira nossas explicações e, após finalizar a leitura, não se esqueça de deixar sua opinião sobre o assunto em nossa seção de comentários.

Preservando a competitividade

Durante o primeiro trimestre fiscal de 2013, 95% do lucro de US$ 5,3 bilhões obtido pelo mercado de smartphones Android foi para os cofres da Samsung, segundo dados da Strategy Analitcs. Em segundo lugar aparece a LG, com uma participação de mercado de 2,5%, enquanto as demais fabricantes somadas dividem o resto desse dinheiro.

(Fonte da imagem: Reprodução/VentureBeat)
Embora isso seja excelente para a fabricante sul-coreana, essa disparidade entre ela e outras empresas não é algo atrativo para a Google. Isso porque, na visão da desenvolvedora do sistema operacional portátil, não é interessante que uma única companhia (que não seja ela) tenha controle sobre o mercado.

O domínio que a Samsung exerce sobre o mundo Android, que até o momento não é rivalizado por qualquer empresa, dá a ela um imenso poder de barganha. Dominando 50% do tráfego de informações que passam pela plataforma, é estranho que até o momento a companhia não tenha tomado a iniciativa de requerer uma participação nos lucros que a Google ganha com anúncios publicitários no meio mobile.

Caso isso ocorra, dificilmente a Gigante das Buscas terá escolha a não ser ceder parte de seus lucros para a companhia sul-coreana. Afinal, ou ela faz isso ou se verá sem uma representante de peso capaz de manter viva a popularidade de sua plataforma portátil — algo que nem mesmo todas as demais fabricantes somadas conseguiriam compensar facilmente neste momento.

(Fonte da imagem: Reprodução/The Wall Street Journal)

“A Samsung possui um poder de mercado forte e pode usar sua posição para influenciar a direção futura do ecossistema Android”, afirma o analista Neil Mawston. “Por exemplo, ela pode exigir receber atualizações exclusivas ou requisitar que novas versões do Android sejam liberadas para ela antes que outros vendedores de hardware a recebam”.

Sinais ameaçadores

Embora não tenha agido de forma direta no que diz respeito a abocanhar parte do lucro que a Google tem com publicidade, a Samsung está bastante ciente do poder que tem no momento. Prova disso é o fato de a empresa estar investindo cada vez mais no desenvolvimento de um sistema proprietário de vendas de aplicativos, conhecido como “Samsung Recommends”.

Embora esse serviço ainda funcione de forma discreta, não é impossível imaginar um futuro próximo no qual ele rivalize o Google Play. Mesmo que atualmente poucos aplicativos estejam disponíveis na loja online, a influência (e o poder monetário) da empresa pode servir como incentivo para que mais desenvolvedores decidam disponibilizar seus softwares por lá.

(Fonte da imagem: Divulgação/Samsung)

Outro ponto que deixa evidente o fato de que a Samsung quer criar uma imagem própria desassociada do Android “puro” é o grande investimento que ela dá a funções e interfaces proprietárias. O maior exemplo disso é o Galaxy S4, que possui tantos programas e funções únicas que a experiência de uso fornecida pelo aparelho se mostra completamente diferente daquela proporcionada pela versão básica do sistema operacional.

Diante desse cenário, é normal que a Google queira se distanciar da fabricante sul-coreana, priorizando empresas que podem assegurar uma maior competitividade ao mercado. Além de ter feito a parceria com a ASUS, a companhia pretende investir US$ 500 milhões na promoção do Moto X como forma de assegurar o sucesso do smartphone entre os consumidores — algo que, se der certo, pode ajudar a diminuir a influência da Samsung sobre esse mercado.

Samsung: em busca de um caminho individual

Ao deixar grande parte do mercado Android nas mãos da Samsung, a Google corre o risco de ver uma fatia de seu mercado consumidor desaparecer de um dia para outro. Isso porque, frente ao público em geral, o nome “Galaxy S” carrega em si muito mais peso do que o próprio sistema operacional que acompanha os aparelhos pertencentes a esta linha.

Esse “golpe” pode acontecer de diversas formas, sendo que a mais evidente delas responde pelo nome “Tizen”. Desenvolvido em parceria com a Intel, a nova plataforma mobile baseada no Linux deve fazer sua estreia em questão de pouco tempo em alguns aparelhos da companhia sul-coreana.

(Fonte da imagem: Reprodução/Tizen Project)

Embora a empresa tenha falhado em chamar a atenção do público com o Bada OS, a aposta no Tizen mostra que ela está tentando abandonar as amarras impostas pela Google. Afinal, ao controlar o sistema operacional que acompanha seus aparelhos, a Samsung também tem a chance de lucrar com todas as transações feitas por seus usuários sem ter que dar nenhuma fatia de seus ganhos a outras organizações.

Caso a aposta da empresa em sua nova plataforma não renda os frutos esperados, ela também pode decidir seguir um rumo semelhante ao da Amazon. Embora ainda utilize o Android como uma base para seus produtos, a companhia de Jeff Bezos modificou o software a ponto de ele se tornar um produto completamente diferente e que possui um ecossistema de aplicativos próprio que não depende da Google Play para sobreviver.

Caso a Samsung decida seguir o mesmo caminho, isso pode significar um grande problema para a Google, que veria seus planos de dominar o mercado mobile ir por água abaixo. Não só ela perderia grande parte de seus consumidores, como se veria forçada a lidar com um adversário com um poder comercial imenso.

Os méritos da ASUS

Apesar de o poder exagerado que a Samsung tem sobre o mercado Android ser um dos principais motivos pelos quais ela não é mais responsável pelo Nexus 10, não é possível deixar de lado os méritos da ASUS. Como já mencionamos anteriormente, a empresa conseguiu fazer um ótimo trabalho com o Nexus 7, dispositivo que não só possui um hardware relativamente poderoso, como também apresenta um preço de venda bastante atraente.

Nexus 7 da ASUS (Fonte da imagem: Divulgação/Google)

Caso a empresa consiga combinar novamente esses dois elementos, a nova versão do tablet que está sob sua responsabilidade tem tudo para ser um sucesso. Quando se leva em consideração que a companhia decidiu abandonar recentemente o desenvolvimento de produtos com o Windows RT, isso significa que ela atualmente conta com energia de sobra para gastar no desenvolvimento do novo produto.

Conhecida principalmente pelas suas placas-mães e componentes para computadores, a ASUS tem diversificado suas atividades nos últimos anos. Além de fabricar produtos para outras companhias, a organização vem apostando cada vez mais em gadgets que carregam sua marca própria, em uma lista que incluiu dispositivos como o Nexus 7 e o FonePad.


Por Felipe Gugelmin Valente

Especialista em Redator

Redator freelancer com mais de uma década de experiência em sites de tecnologia, já tendo passado pelo Adrenaline, Mundo Conectado, TecMundo, Voxel, Meu PlayStation, Critical Hits e Combo Infinito.


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