Cadê a Libra, a criptomoeda do Facebook?

Por Nilton Cesar Monastier Kleina

29/03/2020 - 02:004 min de leitura

Cadê a Libra, a criptomoeda do Facebook?

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O Facebook tem projetos bem ambiciosos que vão muito além de ser apenas uma rede social. E um deles é uma criptomoeda chamada Libra, que pode mudar a forma como fazemos pagamentos pela internet ou até fora dela. Só que desde o anúncio oficial, parece que a poeira baixou e, depois de várias notícias ruins, quase não ouvimos mais falar disso. Será o projeto vai mesmo pra frente? Por que o lançamento é tão difícil assim?

O que é a Libra?

Pra começar, precisamos refrescar a memória e explicar o que é tudo isso. Anunciada oficialmente em junho de dois mil e dezenove, a Libra é na verdade uma união de três coisas: um projeto de criptomoeda global com base em blockchain, uma carteira virtual e uma associação que reúne várias empresas dos mais diversos setores.

O primeiro serviço é o que mais foi divulgado por aí. A criptomoeda Libra seria uma alternativa pra plataformas já existentes, como bitcoin, ethereum, monera e por aí vai. E a ideia é que as pessoas a usem pra várias atividades, como enviar e receber quantias variadas, transferindo pra pessoas físicas ou empresas. O uso do blockchain aproveita todas as qualidades dessa tecnologia: ser seguro, e escalável, além de descentralizado. Segundo um estudo utilizado pela Libra, 1,7 bilhão de pessoas em todo o mundo são "desbancarizadas", ou seja, sem contas nessas instituições.

O segundo serviço é uma carteira virtual, que é chamada de Calibra. A ideia é que ela seja um aplicativo pra você não só gerenciar o seu saldo de Libra, mas também de outras criptomoedas ou moedas tradicionais, tipo dólar, euro e real. Processos antifraude e formas de recuperação de conta no caso de aparelho perdido são algumas das promessas por trás do projeto.

Por fim, a Libra é controlada por uma associação de mesmo nome. Essa é uma organização sem fins lucrativos formada pra gerenciar os processos, oficializar quem suporta a moeda e ampliar a rede de parceiros. Ela também vai promover o desenvolvimento de aplicações e serviços em código aberto. São esses parceiros que garantem que a Libra terá uma reserva, ou seja, uma quantia interna investida de ativos para servir como se fosse um "lastro". Isso é o que impediria flutuações tão radicais quanto a da bitcoin, por exemplo.

Parcerias e regulamentação

Os envolvidos na fundação da Libra eram nomes de peso. O Facebook é o principal nome por trás, mas temos também Uber, Spotify, Coinbase e várias empresas de capital de risco. Mas aí que começam os problemas e obstáculos da Libra, e esses parceiros são o primeiro tópico que a gente precisa explicar.

Meses depois do anúncio, os primeiros fundadores começaram a pular fora. Visa e Mastercard, que são duas das maiores empresas de cartões e pagamentos do mundo, abandonaram o projeto junto com PayPal, eBay e Mercado Pago, entre outras. Não se sabe exatamente o motivo de cada abandono, mas a dificuldade na liberação e regulamentação pode ser o principal tópico debatido. A rede social Twitter também afirmou em comunicado que não está interessada em adotar a plataforma da rival.

E esse é mesmo o principal problema: a regulamentação. Governos de diversas partes do mundo e seus respectivos órgãos econômicos, que incluem os bancos centrais, precisam entrar em um acordo sobre a liberação da moeda e da carteira, assim como as operações da associação. Cada país têm regras diferentes e burocracias mais ou menos intensas, e por enquanto a Europa parece ser o local de atuação mais difícil a ser vencido. Até porque o próprio bloco pode querer lançar um projeto parecido, e aí não é de interesse deles ter um concorrente forte operando antes.

Libra, criptomoeda do Facebook

Credibilidade em falta

E a Libra até já fez alguns inimigos. O ministro da economia da França, Bruno Le Maire, disse no ano passado que quer proibir a criptomoeda em todo o continente. O motivo? A moeda digital poderia ser utilizada para fins ilícitos, como lavagem de dinheiro e financiamento de grupos terroristas. Na realidade, com todas as moedas digitais podem ser usadas pra isso, mas né.

Além disso, tem toda a questão de o Facebook ser a grande empresa por trás disso, e um dos principais nomes que atuam como porta-voz da criptomoeda. A reputação de Mark Zuckerberg não é exatamente das melhores atualmente: ele teve que depor no congresso dos Estados Unidos sobre a falta de privacidade e a comercialização de dados de usuários da rede social, e a empresa é constantemente questionada por ter feito práticas anticompetitivas ao adquirir o Instagram e o WhatsApp.

O que acontece agora?

Mas qual é a situação atual? De acordo com uma reportagem do site The Information publicada em março, a associação teria recuado dos planos de lançamento de uma criptomoeda e adiado a carteira virtual por tempo indeterminado. Só que o Facebook respondeu afirmando que o lançamento do token vai acontecer sim. A diferença é que moedas governamentais, ou seja, oficiais tipo euro, dólar e real, serão mais enfatizadas do que outras formas de pagamento. O site Bloomberg também recebeu a informação de que o projeto original está sendo redesenhado para ser melhor aceita por reguladores.

Vale lembrar que o sistema de pagamentos do WhatsApp vem aí, e isso pode até canibalizar o próprio mercado que a Libra pretende implementar. Se isso vai ou não acontecer, não temos como saber ainda. Por fim, entre as poucas boas notícias, a Austrália afirmou recentemente que está pronta para regular a Libra e deve ser uma das primeiras regiões a aprovar o meio.

Em resumo, a Libra já não gera mais a mesma empolgação do que antes e ainda deve ser vista com muita cautela, mas o lançamento não foi descartado. Agora, é preciso ter paciência e esperar até que os responsáveis decidam pelo andamento dela em cada mercado. E ele pode não ser mais o projeto que vai unir todas as tribos, como foi divulgado inicialmente, mas ainda é uma alternativa interessante e que pode ajudar a popularizar o mercado de criptomoedas e carteiras virtuais no geral.

O que você acha da criptomoeda do Facebook? Morte certa ou sucesso? Alguns países tão certos em barrar? Deixe sua opinião nos comentários!


Por Nilton Cesar Monastier Kleina

Especialista em Analista

Jornalista especializado em tecnologia, doutor em Comunicação (UFPR), pesquisador, roteirista e apresentador.


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