Brasil ainda não tem 'Sandbox Regulatório', mas consegue inovar

Por Alexandre Pinto - Colunista

04/08/2020 - 02:002 min de leitura

Brasil ainda não tem 'Sandbox Regulatório', mas consegue inovar

Fonte :

Imagem de Brasil ainda não tem "Sandbox Regulatório", mas consegue inovar no tecmundo

Antes da pandemia, observar crianças brincando em playgrounds de praças ou parques fazia parte do nosso cotidiano. Nestes locais, é comum encontrar caixas de areia (“sandbox”) onde os pequenos podem brincar à vontade, correndo menos riscos de se machucarem. No mundo da tecnologia, o conceito de sandbox é utilizado para ambientes controlados em que programadores, desenvolvedores e entusiastas podem “brincar” e aprender a utilizar novos recursos sem correr maiores riscos, caso ocorram bugs ou outros problemas.

Mais recentemente, órgãos que supervisionam o mercado financeiro em diversos países, como Dinamarca, Holanda, Cingapura e Reino Unido, também criaram seus “sandboxes regulatórios”. Tratam-se de ambientes de negócio que permitem a experimentação e validação de serviços financeiros inovadores, por meio da concessão de autorizações temporárias e/ou menos exigências regulatórias mas, ainda assim, com limites e controles determinados pelas instituições supervisoras.

'Sandbox regulatório' é uma maneira de buscar equilíbrio entre a proteção de usuários de serviços financeiros e a necessidade de incentivar a inovação e competição

Em outras palavras, o “sandbox regulatório” é uma maneira de buscar equilíbrio entre a preocupação natural dos órgãos reguladores em proteger os usuários de serviços financeiros e a necessidade de incentivar a inovação e competição por parte dos novos entrantes (fintechs), que muitas vezes não têm recursos para cumprir todo o arcabouço de regras e controles “normais” enquanto estão validando hipóteses e modelos de negócios disruptivos. Além disto, os sandboxes também servem para proporcionar insumos para que os próprios órgãos de supervisão possam evoluir o marco regulatório a partir das experiências dos participantes do “playground”.

Já temos isso?

No Brasil, no final de 2019, o Banco Central realizou uma consulta pública (72/2019) para a criação de um “Ambiente Controlado de Testes para Inovações Financeiras e de Pagamento”, para fomentar a concorrência e o desenvolvimento de novos negócios. O sandbox nacional prevê a ação coordenada do Bacen com outros órgãos reguladores como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e a Secretaria Especial de Fazenda do Ministério da Economia

Apesar do sandbox brasileiro ainda não ter saído do papel, podemos afirmar que mesmo assim o Banco Central vem atuando de maneira admirável, incentivando a inovação por meio de sua agenda BC#. Desde 2013, o Bacen tem implementado uma série de mudanças regulatórias significativas, “abrindo” um mercado que antes era dominado por poucas companhias. Podemos destacar:

  • A criação do conceito de Instituição e Arranjo de Pagamento, que permitiu que empresas como Nubank, Neon, Picpay, Magalu, Olx, Via Varejo, etc. oferecessem contas digitais, serviço que era exclusividade dos bancos e cooperativas de crédito.
  • A autorização para abertura das “fintechs de crédito”, nas modalidades SCD (Sociedade de Crédito Direto) e SEP (Sociedade de Empréstimo entre Pessoas).
  • A implementação de uma nova rede de pagamentos (PIX), conectando instituições financeiras tradicionais e as fintechs.
  • O projeto de “Open Banking” que vai permitir que usuários do sistema financeiro compartilhem, por meio de consentimento prévio e de forma segura, suas informações cadastrais e históricos de transações com outras instituições e fintechs, que podem oferecer serviços com maior qualidade e/ou com preços mais competitivos.

Ou seja, mesmo sem um sandbox como apoio, o Banco Central foi capaz de alterar o marco regulatório, proporcionar o surgimento de novos competidores relevantes no mercado e, ao mesmo tempo, preservar a segurança e eficiência do sistema financeiro nacional. Imagine o que poderá acontecer quando houver também este “playground” para experimentações ainda mais disruptivas. Bancões, adquirentes e bandeiras tradicionais certamente terão mais um motivo para perder o sono!

***

Alexandre Pinto, colunista quinzenal do TecMundo, é Diretor de Inovação e Novos Negócios da Matera e especialista em Open Innovation. Na empresa desde 2001, foi responsável pela criação da área de P&D e do seu ecossistema de parceiros.

Veja também


Fontes