Mercedes encerra produção de carros no Brasil; Audi reduz atuação

Por Reinaldo Alexander Franco Zaruvni

21/12/2020 - 06:302 min de leitura

Mercedes encerra produção de carros no Brasil; Audi reduz atuação

Fonte :  Pexels 

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A queda significativa nas vendas de automóveis premium, atribuída também à crise econômica agravada pela pandemia do coronavírus, levou a montadora Mercedes-Benz a encerrar a produção de seus carros no Brasil. A decisão afetará 370 funcionários da companhia em Iracemápolis, interior de São Paulo, que não serão demitidos imediatamente e poderão, entre as hipóteses, aderir a um programa de demissão voluntária.

Inaugurada em 2016, a fábrica recebeu R$ 600 milhões em investimentos e produzia o SUV GLA e o sedã médio Classe C. Novas unidades do SUV não surgem desde setembro, enquanto os processos relacionados ao sedã acabaram na última quarta-feira (16). A meta, afirma a Mercedes, era fabricar até 20 mil veículos por ano, mas apenas 1.206 GLA e 1.785 Classe C foram emplacados entre janeiro e novembro de 2020, segundo dados da Fenabrave.

Com 24.235 habitantes, Iracemápolis perde, assim, o segundo maior empregador do município. "Entre empregos diretos e terceirizados, a Mercedes ocupava de 500 a 600 trabalhadores", disse o gerente administrativo Luiz Marrafon à ISTOÉ.

Mercedes encerra operações em fábrica no interior de São Paulo.Mercedes encerra operações em fábrica no interior de São Paulo.

Quem segue caminho semelhante é a Audi, que, com o fim de incentivos, deve abandonar sua linha de produção em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, no Paraná. 

Por enquanto, uma das confirmações é que a montagem da atual geração do modelo A3 na unidade será encerrada ainda em 2020. De todo modo, a montadora declara estar em contato direto com o governo federal para evitar medidas mais extremas.

Declínio industrial brasileiro

O relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento divulgado em 2016 já alertava para um fenômeno que classificou como desmantelamento precoce da indústria no Brasil, ou seja, o setor deve entrar em colapso antes de atingir todo seu potencial. 

No começo da década de 1970, indica o documento, a participação das manufaturas na geração de emprego e valor agregado no Brasil correspondia a 27,4%. Em 2014, essa participação caiu para 10,9%. Segundo o IBGE, a taxa em 2018 era de 11%.

Indústria brasileira pode entrar em colapso antes de atingir todo seu potencial.Indústria brasileira pode entrar em colapso antes de atingir todo seu potencial.

Choques econômicos vividos pelo mercado nacional nos anos 80, abertura comercial nos anos 90, abandono das políticas desenvolvimentistas e emprego da taxa de câmbio como ferramenta no combate à inflação intensificaram o processo, na avaliação do estudo, reforçado, ainda, por reformas liberalizantes do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial e, mais recentemente, pela pauta exportadora focada em commodities e por um real considerado valorizado.

Reverter a situação é possível, indica o levantamento: "A experiência de sucesso de países industrializados demonstra que a transformação estrutural exige atenção a diferentes fontes de crescimento, incluindo estimular investimento privado e público, apoiando o desenvolvimento tecnológico, fortalecendo a demanda doméstica e aumentando a capacidade dos produtores domésticos de cumprir exigências internacionais."

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