Afinal, Nioh tem identidade própria ou é mais uma cópia rasa de Dark Souls?

Por Reinaldo Alexander Franco Zaruvni

24/02/2017 - 14:344 min de leitura

Afinal, Nioh tem identidade própria ou é mais uma cópia rasa de Dark Souls?

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A série Souls permaneceu única por muito tempo. Praticamente livre de classificações, a fórmula tem uma dinâmica única que contempla RPG, ação, exploração, desafios e recompensas. E é daquele jeito: tudo que vai muito bem inspira outras obras. Lords of the Fallen, Bound By Flame, Titan Souls e muitos outros retiram da série da From Software o principal elemento. Mas e o Nioh?

Há quem categorize os jogos citados como genéricos ou talvez similares demais, ou seja, tentaram ser outro Dark Souls. Contudo, a própria From Software já mostrou para nós que não é bem assim. Bloodborne foi um jogo que utiliza a receita de bolo prévia como alicerce da jogabilidade, mas que traz muitas mudanças, desde a ambientação à própria jogabilidade, que foi refinada.

O quão Dark Souls Nioh é? Apenas a essência

Felizmente, Nioh segue essa linha e vai além. A alma do novo jogo da Team Ninja é essencialmente a da série Souls. O sistema de desafios absurdos, progressão cadenciada e dedicação do jogador estão ali, mas são um dos poucos pontos em comum que o título se inspira. Há muitas disparidades entre os dois jogos, a começar pelo combate.

Quando o assunto é luta, Nioh está mais próximo de Bloodborne, encorajando a ofensiva à defensiva. A defesa é um último recurso, pois o gasto de stamina é absurdamente maior e pode te deixar completamente vulnerável a ataques. Em contrapartida, as esquivas são naturalmente rápidas e, de certa forma, são encorajadas, pois a energia gasta é reaproveitada. Nioh incentiva investidas ágeis e sempre te assegura que há fuga.

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As posturas trazem uma complexidade bem maior à fórmula, já que as instâncias de combates podem fazer toda a diferença na hora de enfrentar um inimigo X ou Y. E esses próprios inimigos podem variar também, assim como o jogador. Bloodborne traz as mudanças de armas, mas Nioh vai muito além. É como se cada combate desafiador fosse um PVP em escala menor.

Sem medo de fugir do arroz com feijão

A grande impressão que fica é que Nioh não teve medo de fugir da cartilha de Dark Souls e Bloodborne. Muitos outros elementos foram criados e dão uma identidade única ao game, como o espírito-guardião, que é um especial maneiraço à la Onimusha que transforma a sua vida e stamina em uma única barra, quase como um modo invencível e extremamente poderoso.

A própria progressão de personagem é um reflexo do quanto Nioh vai além e traz mais elementos à mesa. O protagonista ganha amrita para aumentar os atributos e passar de level, mas há mais aqui. Há pontos de habilidade com a espada e ninjutsus que permitem que você aprenda novos combos, coisa que não existe na fórmula Souls.

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Quem diria? Combos e parries nessa fórmula? Nioh se aproxima de um action RPG muito além do que as suas inspirações fizeram. Isso torna um melhor do que o outro? Jamais. Mas isso traz uma variação de jogabilidade além do que alguém que espera um Dark Souls oriental e cria uma identidade própria.

A essência do combate é a mesma? Sim, mas todo o resto é diferente, criando uma originalidade bem forte e marcante

Além disso, outro fator se destaca: a remoção de parte da frustração. O game da Team Ninja é, ao mesmo tempo, mais difícil em alguns pontos, mas também mais acessível. Nioh é desafiador sim, mas a fórmula tira com uma mão e dá com a outra. Checkpoints são pertos dos chefes, é possível recuperar poções no percurso (em Dark Souls, somente nas Bonfires) e muito mais. O intuito é oferecer recompensa com base no desafio, mas não frustrá-lo a ponto de incomodar.

Level design segmentado? Isso não é problema

Nioh também não se prendeu ao formato interligado e complexo do level design da série Souls. Nesse quesito, o game prefere adotar uma temática diferente: você explora missões em locais fechados e que em nada compartilham com o nível anterior. Isso poderia ser um ponto negativo, mas a Team Ninja soube aproveitar a fórmula e colocou missões secundárias que reaproveitam o mesmo ambiente, mais uma vez beliscando elementos do RPG.

Em todos esses mapas, há diversos inimigos, baús e extras que montam um sistema de loot absurdamente bem-feito à la Diablo, que deixa qualquer fanático por RPG de raiz louco para ver quais são os novos equipamentos conquistados. Só para você ter noção, dá até para forjar e reforjar armas para conquistar status melhores nos equipamentos, bem Diablão mesmo.

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Fora as missões crepusculares, que oferecem um desafio ainda maior e que certamente encorajam o cooperativo ou o aperfeiçoamento de cada habilidade, não só em termos de pontos em menus, mas de aprimoramento nas mecânicas do jogo: saber a hora exata de esquivar e quais as possibilidades com cada arma.

História à la Onimusha que não temos mais

A história da série Souls sempre retrata uma pessoa que tem um objetivo a cumprir, mas ela não tem nome ou um objetivo claro desde o princípio. Talvez esse seja um dos maiores destaques de Nioh, pois o enredo é bem definido, com protagonistas, antagonistas e uma trama claramente traçada e guiada que envolve vingança.

William tem um propósito claro de vingança: recuperar o seu espírito-guardião, custe o que custar. E no caminho dele, Edward Kelley assume claramente o papel de antagonista. Vira e mexe vemos Nobunaga, a mesma figura história que tem papel de vilão em Onimusha, dar as caras. Histórias com tons de cinza são excelentes, mas um bom e velho enredo mais maniqueísta é bom para atiçar os mais nostálgicos.

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A cereja do bolo e possivelmente o que mais difere Nioh de Dark Souls e Bloodborne é a temática oriental. Não só pelo fato de ser inspirado na cultura japonesa como também por utilizar contexto histórico real. Musashi, Inei Hozoin, Nobunaga e outras figuras célebres aparecem na trama, mesclando a fantasia com a realidade de maneira impecável.

Inspiração? Sim. Cópia? Não

No geral, jogar Nioh deixa um gostinho de familiaridade que quem é fã da série Souls certamente vai sentir. Contudo, bastam algumas horas de jogo para sentir que a experiência é diferente de tudo que você já viu, não só pelas novidades em relação à franquia da From Software, mas também pela identidade própria e originalidade que o game tem em muitos aspectos. É quase como uma reinvenção da fórmula.

Nioh se inspira na receita Soulsborne? Certamente, e disso não há dúvidas, mas passa longe de tentar ser um Dark Souls do Japão. Looting, skills, missões secundárias, habilidades especiais, folclore japonês e muito mais formam uma composição tão única que, se bobear, é uma obra que servirá para inspirar outros, assim como Dark Souls fez por toda uma geração.

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Fontes

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