Seis anos após o lançamento do remaster de Onimusha: Warlords, era difícil crer que a Capcom agraciasse seus fãs não com um, mas dois anúncios destinados a revitalizar a celebrada franquia de samurais. A produtora japonesa, aliás, vem numa toada de resgatar suas obras, tal como fez com Okami e, mais recentemente, com Dragon's Dogma. A gente agradece.
Parece mentira, mas vivemos num mundo em que a Capcom não apenas anunciou uma versão melhorada de Onimusha 2: Samurai’s Destiny, um título originalmente de PlayStation 2, como também uma produção inédita, Onimusha: Way of the Sword, programada para chegar em 2026 às plataformas atuais.
Numa época em que games ambientados no Japão feudal estão em evidência, Samurai’s Destiny é um alento refrescante, com sua estrutura linear, característica de jogos de ação da sexta geração de videogames, e um combate mais cadenciado e metódico, embalado pela nostalgia dos controles tanque de Resident Evil.
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Espadachim old-school
Para quem não conhece, a melhor forma de definir Onimusha é, a meu ver, dizer que ele é um Resident Evil com espadas, tendo o hack and slash como uma de suas assinaturas. Embora não imprima a mesma velocidade de Devil May Cry, série com a qual coexistiu no início dos anos 2000, Onimusha sempre teve charme próprio.

Em Samurai’s Destiny, deixamos de lado Samanosuke Akechi, protagonista do primeiro capítulo, para assumir o controle de Jubei Yagyu, líder do clã que leva seu nome. Após testemunhar a destruição de seu vilarejo pelas mãos de uma versão possuída de Nobunaga Oda, Jubei parte em uma jornada de vingança contra a ameaça demoníaca, agora amparado pelos poderes dos Oni e disposto a revidar na mesma moeda.
Conforme mencionei, Samurai’s Destiny carrega a essência do primeiro Resident Evil em termos de estrutura, mas com menos quebra-cabeças e backtracking. Chegamos até a revisitar o castelo Gifu, palco de Warlords, cujas semelhanças com a mansão Spencer não são mera coincidência. O segundo episódio, contudo, é mais aberto, com cenários externos e variados, de florestas de bambu a cavernas, ainda que limitados em extensão pelos padrões da época.
Altos e baixos
Os controles tanque ganharam um toque moderno, permitindo que o jogador circule pelos ambientes com mais naturalidade — isto é, com movimentos menos robóticos e, por consequência, menos erráticos, especialmente durante o combate. A câmera fixa, por sua vez, permanece intacta e nos faz constatar que envelheceu como leite esquecido na geladeira.
O problema não é a câmera estática em si, mas sim o fato de o título propor um combate exigente sem oferecer os recursos necessários para que você aja com precisão. Há momentos em que o personagem opera ataques desengonçados por não poder mapear a direção em que o inimigo se encontra. Uma recalibragem no ângulo de algumas cenas já teria feito bem à experiência.

Por outro lado, o combate resistiu ao desgaste do tempo e continua muito satisfatório, ainda mais agora, com a troca dos controles tanque por um esquema modernizado. Ataques carregados e finalizações entregam a crocância que se espera de um game de ação, mas nada supera o prazer de executar um golpe crítico, ou seja, um contra-ataque, aqui nomeado de Issen. Enquanto a câmera azedou como leite, o combate maturou como um bom vinho.
Já o sistema de afinidade tem seus altos e baixos. Ainda que traga linhas de diálogo e momentos únicos para os aliados, dependendo das escolhas que você faz e dos presentes que concede a cada um deles, as mecânicas de relacionamento parecem desconectadas do resto do jogo e são simplesmente abandonadas em trechos mais avançados, o que mostra um potencial desperdiçado.
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Um remaster de respeito
Como remaster, Onimusha 2 faz a lição de casa e cumpre todos os requisitos de um relançamento competente. Textos em português, com vozes no idioma original em japonês, não somente em inglês (apesar da sincronização labial meio tosca), podem ser atrativos para estimular o retorno de quem já experienciou a aventura.
Como remaster, Onimusha 2 faz a lição de casa e cumpre todos os requisitos de um relançamento competente.
O visual também recebeu uma bela repaginada, à altura da qualidade das adaptações dos clássicos da Capcom, com gráficos em alta resolução capazes de restaurar a formosura dos cenários pré-renderizados. Mesmo que os lugares sejam meio “mortos” e não reajam às ações do jogador, há momentos em que paramos só para apreciar a beleza genuína — e à prova do tempo — de Samurai’s Destiny.

No âmbito da dificuldade, temos o modo fácil habilitado desde o início, ideal a quem só deseja aproveitar a história, bem como uma opção infernal, literalmente, reservada aos masoquistas de plantão. Os mini-games, antes disponíveis após a conclusão da campanha, também podem ser jogados de imediato a partir do menu, sem a exigência de zerar, sendo o passatempo perfeito para dar uma pausa no foco principal da jornada.
Afinal, vale a pena?
Acima da média, o remaster de Onimusha 2 reafirma o carinho que a Capcom tem por suas franquias. Samurai’s Destiny se desentende com a câmera e apresenta problemas no sistema de afinidade, questões que ficam mais evidentes hoje em dia, mas que não comprometem o valor de um jogo cuja estrutura segue bastante singular: ora Resident Evil, ora hack and slash. Resta torcer para que Onimusha-like vire tendência daqui para frente.
Nota: 80
Pontos positivos (prós):
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- Exigente, o combate ficou ainda melhor com controles modernizados;
- Movimentar o personagem ficou mais fácil (e menos desengonçado);
- Mantém o charme próprio de Onimusha, uma franquia que poucos ousam “copiar”;
- O visual recebeu um belo tratamento, especialmente na renovação dos cenários pré-renderizados;
- Legendas em português, com ótima adaptação dos textos.
Pontos negativos (contras):
- As limitações da câmera fixa ficaram mais evidentes;
- O sistema de afinidade, um dos grandes atrativos quando o jogo foi lançado, hoje se mostra desconexo da experiência.
Onimusha 2: Samurai’s Destiny foi gentilmente cedido pela Capcom para o propósito de análise no PC. O jogo também está disponível para PS4, Xbox One e Nintendo Switch.