Guacamelee! 2 é uma ótima razão para vestir novamente a máscara de luchador

Por Mikhael Narduci

21/08/2018 - 06:004 min de leitura

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Sete anos após os eventos de Guacamelee!, Juan é um homem feliz e que se preocupa mais com sua família do que com as aventuras do passado. Casadoo e pai de dois filhos pequenos, ele até cultivou uma barriguinha de cerveja que faz com que seja difícil acreditar que ele é o grande salvador do mundo.

No entanto, enquanto tudo anda tranquilo para o herói, o mesmo não acontece nas demais linhas do tempo. Acontece que Guacamelee! não tem somente uma dimensão: em todos os outros espaços do Mexiverse, Juan falhou de maneiras diferentes em sua missão de parar Carlos Calaca.

Na mais sombria das linhas do tempo, quem cumpriu essa missão foi Salvador, um luchador corrompido por sua máscara e que busca a passagem para o reino dos deuses. Somente lá ele vai encontrar a Guacamole sagrada, que vai lhe conceder os poderes de que ele precisa para reinar supremo em todas as dimensões — algo que pode resultar no fim do Mexiverse.

O salvador de muitos universos

Nesse contexto, os diversos sábios Uay Chivo convocam o único Juan que restou para ele salvar o Mexiverse e parar os planos do vilão. Isso se traduz em uma nova aventura repleta de ação, momentos de plataforma desafiantes (alguns deles em nível que chega a ser irritantes), elementos da cultura mexicana e um humor ainda mais afiado — e que, embora diminua a quantidade de memes do antecessor, ainda os mantêm.

Guacamelee 2

Guacamelee! 2 é uma sequência no sentido mais clássico da palavra: mantendo os elementos que consagraram o jogo original, ele expande seu universo para trazer uma história ainda mais surreal (com direito a galinhas Iluminati) e cenários expandidos. Enquanto isso é bom na maior parte do tempo (já que o primeiro jogo era muito bom), é difícil não sentir que ele perde em alguns momentos na comparação direta pela “falta de novidades”.

O game oferece uma experiência bastante linear: para parar Salvador, você tem que impedi-lo de adquirir três artefatos mágicos (com formatos que fazem referência direta ao Triforce de Zelda) para impedi-lo de concretizar seus planos. Conforme o jogador avança, ele encontra novas habilidades que melhoram suas capacidades de ataque ao mesmo tempo em que abrem mais formas de exploração.

você vai poder correr por paredes, destruir obstáculos com cabeçadas e se transformar no frango mais mortal da história dos video games

Ao final do game, você vai poder correr por paredes, destruir obstáculos com cabeçadas e se transformar no frango mais mortal da história dos video games. O ritmo de progressão é rápido e o jogo sabe explorar muito bem cada habilidade nova: a partir do momento em que você acha que tem a maestria de uma, logo surge uma nova para mostrar mais possibilidades (e desafiar seus reflexos).

Uma novidade de Guacamelee! 2 são os treinadores: cada um dos cinco permite gastar ouro para aprimorar áreas que vão da sua energia até o poder de ataque de golpes normais e especiais (e sua capacidade de Wrestling). O sistema funciona de maneira inteligente, permitindo que você se foque nas áreas em que tem mais simpatia conforme progride — no entanto, não é preciso muito esforço para chegar ao fim do jogo com todos os upgrades e uma boa quantidade de ouro sobrando.

Metroidvania focado em plataformas

O ponto alto de Guacamelee! 2 é a exploração de ambientes: a desenvolvedora Drinkbox fez um belo trabalho ao criar desafios que crescem em dificuldade e exigem que você saiba combinar as habilidades que já abriu. Assim como no primeiro, ainda existem áreas que o jogador não vai conseguir acessar em uma primeira tentativa, exigindo algum poder mais avançado para serem exploradas.

Guacamelee 2

No entanto, a sequência traz uma quantidade reduzida de backtracking (aquele vai e volta pelos mesmos cenários), o que facilita conseguir 100% de cada área disponível. Outro ponto que ajuda é o sistema de cores usado pela desenvolvedora: se você vê um obstáculo de um tom que não está relacionado a um poder aberto, já sabe que é bom nem insistir nele no momento e deixar para voltar ao lugar mais tarde.

Quem decidir explorar cada canto de Guacamelee! 2 vai ser recompensado por upgrades para a vida e stamina do herói (que determina a quantidade de poderes que você pode usar), bem como algumas novidades cosméticas. Cada sessão do game esconde uma roupa diferente, que muda tanto o visual da forma humana de Juan quanto sua retratação galinácea.

Além disso, também há a presença de uma chave misteriosa, que só pode ser encontrada após vencer os maiores desafios do jogo. Algo que não impede que a aventura principal tenha uma dose generosa de dificuldade: enquanto os combates nunca chegam a ser absurdamente difíceis, alguns trechos de plataforma fizeram com que eu quisesse jogar o controle na parede.

Guacamelee 2

Nos trechos finais de Guacamelee! 2, é normal encontrar desafios que exigem que você pule no momento certo, troque entre o mundo dos vivos e dos mortos algumas vezes, acione os poderes especiais adequados e ainda se transforme em galinha. Tudo isso para, no final, colocar na tela um inimigo que você não sabia existir que vai lhe jogar rumo a espinhos que vão exigir que o processo seja reiniciado do zero.

O processo é recompensador, mas se torna cansativo em certos momentos: muitas vezes, parece que faltou o uso de bom senso para decidir que era hora de adicionar desafios semelhantes entre si e deixar a história avançar. Além dos momentos de plataforma, o game também é bem generoso em criar barreiras e forçar você a enfrentar um conjunto de inimigos para conseguir sair delas (algo que ele subverte um pouco mais próximo do final).

Para até quatro pessoas

Infelizmente, não tive a possibilidade de testar o multiplayer local para até quatro jogadores introduzido pela Drinkbox na sequência. No entanto, a experiência para duas pessoas se mostrou bastante interessante: ao mesmo tempo em que ela tornou os combates um tanto mais fácil, trouxe uma dose adicional de desafio às partes de plataforma.

Enquanto os mais puristas do gênero vão querer terminar Guacamelee! 2 sozinhos ao menos uma vez, o jogo é uma boa experiência para compartilhar com amigos. Só tome cuidado para não perder a calma caso seu companheiro (ou companheira) de jogo não tenha reflexos tão bons nas partes de plataforma.

Aventura mexicana com tempero apimentado

O maior problema de Guacamelee! 2 para mim tem características bastante subjetivas (e não está influenciando na nota do game): o jogo é engraçado e divertido, mas o novo elenco de antagonistas não é tão bom quanto o do primeiro game. Isso fica especialmente evidente quando seus inimigos antigos aparecem — na experiência original, eles tinham mais tempo de tela para se desenvolver e ofereciam batalhas mais marcantes.

Guacamelee 2

Também não ajuda o fato de que uma traição não traz qualquer espécie de consequência, deixando em aberto qualquer implicação que poderia trazer. No entanto, esses são pormenores que não estragam o game, cujo ponto forte é mesmo sua mistura bem temperada de exploração, combates e referências sagazes (e, em alguns momentos, somente bobas).

Em resumo, Guacamelee! 2 é um game que não inventa muito a fórmula de seu antecessor, mas que soube adicionar elementos novos o suficiente para criar uma experiência tão divertida quanto. As pouco mais de 8 horas necessárias para terminar o jogo são satisfatórias e garantem a possibilidade de voltar à aventura em uma dificuldade mais difícil.

Guacamelee 2

Em um momento em que PCs e consoles estão sendo inundados de “Metroidvanias” (games que misturam elementos de Metroid e Castlevania) com ideias que subvertem o gênero, é bom ter a disposição uma experiência mais clássica e cheia de personalidade. Em outras palavras: fãs do primeiro jogo vão ter uma ótima dose de diversão, enquanto aqueles que ainda não conhecem a série dificilmente vão se arrepender de decidir conhecê-la através da sequência.

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