Hitman 2 refina e melhora tudo o que a IO trouxe com o reboot de 2016

Por Mikhael Narduci

22/11/2018 - 07:006 min de leitura

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Hitman 2 (o segundo jogo da série a receber esse nome) poderia muito bem ser considerado como uma “segunda temporada” do game lançado pela IO Interactive em 2016. Há indícios de que essa realmente era a ideia original do estúdio, que iniciou o desenvolvimento da sequência ainda sob a aba da Square Enix — que decidiu não continuar dando suporte ao estúdio no meio do processo.

Agora agindo de forma independente (com ajuda da Warner Bros. no processo de publicação), o estúdio entrega uma experiência que não muda o que funcionou no jogo anterior, mas sim refina suas ideias e dá ao jogador ainda mais opções de desenvolver sua criatividade. O objetivo final é sempre matar os alvos indicados, mas isso não é tão simples quanto pode parecer em um primeiro momento.

Na pele de um assassino profissional sem sentimentos, seu desafio vai ser cumprir suas missões sem ser notado, o que exige um belo poder de observação e conhecimentos sobre as regras do mundo a seu redor. Repleto de possibilidades, Hitman 2 é um ótimo game furtivo e que tem tudo para agradar aos fãs de longa data da IO.

Formato mais direto

A principal diferença do game em relação a seu antecessor é o formato do lançamento. Enquanto o jogo de 2016 apostou em lançamentos episódicos, Hitman 2 oferece logo de cara 7 missões totalmente inéditas, que começam exatamente do ponto em que o anterior parou: a nova história mostra o Agente 47 lidando com conspirações internacionais ao mesmo tempo em que busca os responsáveis por transformá-lo em um assassino sem emoções e sem memórias.

Hitman 2

A trama é interessante, mas a forma como ela é contada não é das melhores e deixa claro os limites de orçamento com os quais a IO estava trabalhando. Embora os atores de voz façam um bom trabalho, todas as cenas são contadas na forma de quadros com animações limitadas, em um ritmo que não é muito interessante de assistir.

A trama é interessante, mas a forma como ela é contada não é das melhores

Demora um pouco para fazer a ligação entre o que está sendo mostrado nesses segmentos e as ações do protagonista, mas o game resolve isso em seus momentos finais. Especialmente nas duas últimas missões, fica claro como diferentes assassinatos ao redor do mundo se relacionam à jornada pessoal do Agente 47.

Um grande playground do assassinato

Enquanto a história de Hitman 2 tem seus problemas, você vai se esquecer deles rapidamente quando entrar nas fases preparadas pelos desenvolvedores. Com exceção do primeiro estágio, que é mais contido, a desenvolvedora preparou grandes playgrounds em que é preciso usar seu poder de observação para planejar a melhor maneira de executar seus alvos.

Hitman 2

O game nos apresenta cenários que vão de uma corrida de automóveis em Miami até uma cidade colombiana dominada pelo narcotráfico e um pequeno vilarejo dos Estados Unidos que esconde grandes segredos sob uma fachada tranquila. O elemento em comum entre eles é que, no início, tudo o que você sabe é quais alvos devem ser eliminados — e cabe a você decidir como fazer isso.

Essa liberdade é a parte mais interessante de Hitman 2, e ela se mantém mesmo que o jogador ligue o sistema de dicas formulado pela IO. Enquanto nas primeiras fases elas dizem quase exatamente tudo o que é preciso fazer, mais para frente elas servem mais como “sugestões” de oportunidades e cabe a cada pessoa descobrir como aproveitá-las da melhor forma — quem quer descobrir tudo por conta própria pode desligar o sistema nos menus.

As opções oferecidas são a parte mais legal do game, que fica ainda mais evidente quando você decide fazer uma missão pela segunda (ou terceira, ou quarta) vez. Os cenários são repletos de possibilidades e disfarces para usar, e é comum passar por uma rodada sem vez todas as opções e rotas que você tinha a disposição.

Hitman 2

Para matar um alvo, você pode seguir a rota mais simples e se esconder, esperar ele passar pela frente e meter uma bala em sua cabeça (e depois sair correndo). Quem prefere ser um pouco mais sofisticado pode preferir descobrir o local de repouso de um alvo, roubar as chaves para entrar lá e esperar para matá-lo silenciosamente sem nenhuma testemunha.

Ao completar uma fase, você libera ainda mais possibilidades para lidar com ela, que vão de novos pontos iniciais até a inclusão de pontos em que a agência para a qual o Agente 47 trabalha pode deixar alguns “presentinhos” para ele. Mesmo que o jogador finalize a missão da mesma maneira, esses elementos ajudam a dar um “tempero” diferente e a abrir o leque de possibilidades, que o própria conhecimento prévio de um cenário já ajuda a ampliar.

Vamos falar de problemas

Caso você tenha lido o texto até agora (obrigado, mesmo), já deve ter entendido que eu gostei muito de Hitman 2. Eu acredito que o jogo combina muito bem a proposta de sua história com suas mecânicas, premiando uma jogatina mais metódica e observadora e punindo quem é descuidado ou gosta de “dar uma de Rambo”. Mas, assim como todo produto, ele tem alguns problemas — uns mais incômodos do que os outros.

Hitman 2

A inteligência artificial, por exemplo, não é das mais “inteligentes”. Caso você passe pelo campo de visão de algum personagem capaz de detectar seu disfarce — com exceção das câmeras —, ele vai passar a segui-lo durante um tempo e pode estragar seu disfarce. A não ser, claro, que o jogador corra um pouco, vire uma esquina e se esconda — o que basta para seu perseguidor “esquecer” o que estava fazendo, em um esquema que se prova bem manipulável.

Da mesma forma, o game tem alguns bugs que me tiraram da aventura e acabaram com a imersão. Jogando no PC, o jogo congelou completamente no momento em que eu havia acabado de terminar a segunda fase, algo que foi bastante frustrante. Em outro momento, tive que refazer um trecho completo porque, após um planejamento meticuloso, seguranças foram transportados para dentro de um banheiro enquanto eu estava no meio de roubar o disfarce de um NPC.

o game tem alguns bugs que me tiraram da aventura e acabaram com a imersão

“Ah, mas todos os jogos têm bugs, não é justo tirar pontos de um game por isso”. Embora concorde com a primeira parte, tenho alguns comentários a fazer sobre a segunda. Tudo bem que todo game tem problemas técnicos, mas quando eles são suficientes para perturbar sua diversão, acredito que eles devem ser apontadas e não é possível “passar o pano” e considerá-los algo ignorável — motivo pelo qual estou falando sobre o que testemunhei em Hitman 2.

Além da campanha

Fora as fases do modo história, o game também traz a opção Sniper Assassin, em que você usa uma arma de longo alcance para matar alvos que estão reunidos em meio a um casamento. O objetivo é eliminar todos eles no menor tempo possível, sendo que os melhores desempenhos ficam destacados em um quadro de pontuações global.

Somente uma fase está disponível no lançamento, sendo que o foco é realmente essa competição para definir quem é o assassino mais eficiente. Particularmente eu gostaria de ver mais variedade sendo adicionada, como alvos em contextos diferentes ou até mesmo uma maior variedade de localizações (ou ângulos de assassinato, por exemplo).

Hitman 2

Hitman 2 também tem o “Ghost Mode”, que é a sua versão de como funciona uma experiência multiplayer. Nele, você vai ter que provar que é mais habilidoso que outro jogador e correr para matar 5 alvos (definidos de forma aleatória) antes de seu adversário — algo que se mostra bastante divertido e vai exigir um bom domínio das mecânicas do jogo para você se dar bem.

Já tem gente muito habilidosa no modo online, que consegue matar qualquer NPC sem passar despercebido e sem recorrer em nenhum momento às armas de fogo. Embora parte da experiência adquirida com a campanha ajude bastante aqui, as dinâmicas de competir com uma pessoa real fazem com que o game ganhe uma nova camada de dificuldade.

Para completar, o game também traz a volta dos Alvos Elusivos, que oferecem somente uma chance para matá-los da melhor maneira possível. Infelizmente, como esta análise ficou pronta antes da IO Interactive liberar essa modalidade, não pudemos conferir como isso está funcionando na prática.

Refinamento que vale a pena

Hitman 2 é um grande refinamento das ideias que a IO Interactive havia apresentado com o reboot de 2016. Deixando de lado o formato episódico para entregar de uma só vez uma aventura completa, o game traz uma interface mais fácil de ler e um novo conjunto de fases repleto de possibilidades interessantes.

Hitman 2

Com a ajuda da publicação da Warner, a IO Interactive conseguiu criar uma bela experiência furtiva que ganha pontos por saber unir um tema muito sério com um humor leve. O Agente 47 é uma pessoa extremamente seca e profissional, mas não pensa duas vezes em se fantasiar de flamingo se isso aproximá-lo de um alvo — e é esse contraste que ajude a tornar o clima do jogo bem divertiudo.

O que deve ficar claro para quem está interessado no game é que ele foi pensado para você voltar múltiplas vezes a cada uma de suas fases. Se você decidir simplesmente conferir a história, vai se deparar com uma aventura que dura menos de 10 horas — elas são bem divertidas, mas não revelam todo o potencial e possibilidades que a desenvolvedora preparou para os consumidores.

a IO Interactive conseguiu criar uma bela experiência furtiva que ganha pontos por saber unir um tema muito sério com um humor leve

Mesmo tendo meus problemas com o modo Sniper Assassin e com a maneira como a história é contada, devo dizer que Hitman 2 é um game repleto de acertos, que poderiam ser ainda maiores não fossem os bugs que eu enfrentei. Depois que você entende as regras desse universo, o game se revela como um playground divertido de jogar, em que seus erros servem como aprendizados para melhorar suas habilidades de assassinato — mal posso esperar para ver como a IO Interactive evolui a experiência nos próximos meses.

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Fontes

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