O reboot de Hitman ainda não é o Blood Money, mas está no caminho certo

Por Reinaldo Alexander Franco Zaruvni

23/03/2016 - 06:176 min de leitura

Fonte : TecMundo Games

Hitman pode não ser a franquia mais consagrada do mundo dos games nem a mais amada pelos jogadores, mas ela certamente teve uma legião de fãs por muitos anos. Depois que Hitman: Absolution se provou um título fraco da série ao se afastar bastante de suas raízes, a IO Interactive e a Square Enix prometeram corrigir os erros do passado em um reboot da IP.

Se você, assim como eu, é um dos amantes da franquia que joga desde o primeirão lá na época do PC e considera Blood Money um ponto de referência, o supertrunfo do baralho, a menina dos olhos, a galinha dos ovos de ouro e o Alejo da série Hitman, certamente quer saber se o reboot faz jus à qualidade dos títulos anteriores. Confira a nossa análise completa.

A mesma jogabilidade de sempre (mas bem melhor)

O alicerce da jogabilidade teve poucas mudanças em termos de movimentação e ação, que ainda são bem duras e pouco fluidas. Em outras palavras, jogar Hitman será semelhante ao que sempre foi. Entre as mudanças que seu antecessor trouxe, o reboot nerfou consideravelmente a habilidade de “instinto” e as marcações de execução rápidas à la Splinter Cell: Conviction.

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Contudo, o game voltou com tudo no que diz respeito às origens da série, como disfarces, level design extremamente bem-feito e uma variedade enorme de formas de matar os seus alvos. O ponto mais forte da nova experiência é explorar cenários enormes e abusar da sua criatividade.

Há objetos interativos por todo o cenário que podem ser utilizados de inúmeras maneiras para matar os seus contratos. Diferente de Absolution, não precisamos esperar e nos esconder das rotinas de inimigos. Dessa vez, os disfarces são melhores do que nunca e contam um sistema muito inteligente, que vamos detalhar mais para frente.

Na missão de Paris, por exemplo, temos que assassinar duas pessoas em um evento de moda. As possibilidades para realizar o trabalho são inúmeras, desde esperar o alvo estar sozinho para pipocar uma bala nele, até as mais criativas, como matá-lo envenenado, distraí-lo com fogos de artifícios e eliminá-lo com uma sniper, se disfarçar de modelo e esperar pela hora certa, explodi-lo com uma bomba em uma câmera de TV e muito mais.

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A princípio, não me agradou a ausência de um sistema de dificuldade no game. Desligar o modo instinto (botão RB/R1) e os objetivos marcados no mapa é apenas uma opção no menu, por exemplo, e nada altera na sua pontuação. Porém, por serem opcionais, cabe a você criar o seu próprio desafio. Ao mesmo tempo, o reboot é tão atrativo para os iniciantes, que se veem perdidos no mapa, quanto para os veteranos, que gostam de estudar o cenário e as rotinas de cada NPC.

Fator replay altíssimo

Conforme citamos acima, a criatividade rola solta, e tudo depende do quanto você explora do mapa. Ao terminar a missão, você consegue ver os desafios do jogo, que podem vir em formas de assassinatos ou de ordens específicas de ações na partida. Em um deles, por exemplo, eu teria que matar um dos personagens ao empurrar outro de uma sacada, matando os dois com o impacto. Nem preciso dizer o quanto tentei isso, né?

Há uma lista enorme, com muitas e muitas variáveis, que tentei cumprir durante todo o tempo que estive com o jogo. A missão de Paris pode ser curta para quem é objetivo e sabe o que fazer. Caso você queira, é possível atirar em cada um deles e sair correndo. Entretanto, a graça é se desafiar e cumprir os challenges. A missão de Paris pode durar cerca de 40 minutos, mas tenha certeza: se você é um colecionista e um fã das antigas de Hitman, vai repeti-la inúmeras vezes.

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Ao final de cada nível, você é recompensado com pontos, que servem para liberar novas áreas iniciais e mais equipamentos para diversificar a experiência. Isso é cativante tanto para os colecionistas e fanáticos por desafios quanto para quem quer experimentar as mesmas fases de maneiras diferentes. Sem dúvidas, o reboot da série encoraja muito que o jogador explore cada pedacinho do mapa – que conta com um level design soberbo – e aproveite ao máximo tudo que o game tem a oferecer.

Quando você acha que matar as mesmas pessoas já cansou, entra o conteúdo da comunidade. Tanto o título quanto os outros jogadores podem criar desafios personalizados para eliminar determinadas pessoas, saindo do objetivo oficial da missão e trazendo ainda mais variedade de conteúdo. Caso você queira, também é possível montar o seu próprio desafio e disponibilizá-lo para o resto do mundo.

Ficou confuso? Vamos explicar. Esse sistema é a evolução dos contratos de Absolution. Você ainda está nos mesmos mapas, mas as missões são outras. Em vez concluir o objetivo oficial, você deve encontrar outros personagens e cumprir outras exigências. Por exemplo: iniciar disfarçado de um investidor (que começa na cobertura do prédio) e matar três cozinheiros (que ficam no porão). Por conta disso, acabamos conhecendo áreas pelas quais talvez não passaríamos normalmente na missão e temos uma experiência ainda mais completa.

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Inteligência artificial mais natural e flexível

Quanto às mecânicas clássicas, muita coisa foi aprimorada. Você se lembra que em Absolution todos os personagens tinham roupas iguais ao seu disfarce e desconfiavam de você instantaneamente? Aqui, as coisas são mais orgânicas. Afinal, um garçom em uma festa chique não conhece todos os seus companheiros, mas certamente o chef de cozinha sabe se contratou um careca de olhos azuis.

Em outras palavras, você não precisa mais ficar se escondendo mesmo quando está disfarçado, pois apenas algumas pessoas-chave conseguem ver através da sua fachada. Outra adição importante é a flexibilidade de decisão dos NPCs. Em muitos jogos de stealth, os inimigos contam com um sistema binário de identificação de ameaças, ou seja, caso você entre em um lugar que não deve, é automaticamente alvejado.

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No novo Hitman, os adversários não vão atirar caso você passe por um lugar proibido, mas vão avisá-lo de que não deve fazer isso. Caso você volte, é até capaz de ouvir algo como “você quase se meteu em uma enrascada, hein? Cuidado”.

Contudo, o jogo ainda não é um simulador e não tem uma inteligência artificial avançada o suficiente para entender o que é “estranho”. Andar agachado, correr, esbarrar e fazer ações suspeitas muitas vezes não chamam atenção dos inimigos. Utilizar a tática de veneno no primeiro alvo de Paris, por exemplo, faz com que ele vá ao banheiro. Enquanto ele está vomitando, o segurança dele fica na porta, mas ele não desconfia se você entrar e sair de lá. Um tanto estranho e forçado, não é mesmo?

Por enquanto, a história é bem rasa

Porém, se tudo isso parece o sonho de qualquer fã da franquia, saiba que há pontos fracos aqui. A história, por exemplo, é extremamente rasa. Só sabemos que, assim como no original, o Agente 47 perdeu a memória e trabalha para uma organização de assassinos. O game até tenta colocar um mistério no ar, mas nada que empolgue.

A narrativa da série nunca foi o ponto forte, mas certamente o esquema de episódios poderia prender a atenção do jogador com um roteiro de séries, por exemplo. O ponto positivo é que ele não repetiu a narrativa confusa de Absolution, com diversos elementos soltos no ar que exploraram a personalidade do agente 47 de uma maneira estranha.

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Ainda é cedo para dizer o que esperar da história de Hitman, mas certamente o começo não ajudou. Infelizmente, a CG inicial acabou empolgando muito mais pelos efeitos e pelas animações bonitas do que pelos diálogos mal explorados. Resumidamente, assumimos um cargo de capanga no enredo, sem saber ao certo o plano de fundo do que está acontecendo. 

Vou descansar os olhos enquanto a missão não carrega... zZZzzzz

Se tem algo que incomodou bastante no novo Hitman são os loadings absurdamente longos. Só existe um, que ocorre antes de a missão começar, mas ele demora muito, mas muito mesmo, passando dos 90 segundos, algo bem semelhante ao que acontece em GTA V. Caso você carregue um save durante a missão, esse tempo de carregamento vai acontecer de novo.

undefinedPrepare-se para encarar essa tela por muito tempo

Outro grande problema é o sistema de conexão constante. É possível jogar offline, mas você não acessa nenhum tipo de challenge. Um ponto negativo é que, caso você esteja no meio de uma missão e a sua conexão caia, o game reinicia o nível, e você perde o progresso.

Há algo aqui que pode incomodar bastante também, que é a carência de um troféu de platina. Para um jogo que cativa os jogadores com colecionáveis, replay e formas variadas de passar a mesma missão, a falta de um achievment máximo pode desencorajar os fãs mais hardcore. Sem dúvidas, não é algo que atrapalhe a experiência, mas vale a menção.

Visualmente belo, mas com os seus problemas

Graficamente, Hitman divide opiniões. Em certos momentos, vemos visuais de cair o queixo. Na missão de Paris, por exemplo, os efeitos são lindíssimos e as roupas das modelos são muito detalhadas, além de nos depararmos com uma grande variedade de personagens e efeitos de iluminação soberbos.

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Os detalhes do prédio são dignos de serem comparados com os interiores vitorianos de Assassin’s Creed Unity. Por se tratar de um mapa extenso, há diversas áreas para serem exploradas, cada uma delas construída belissimamente e com grandes diferenças entre si.

Contudo, o espetáculo fica de lado em alguns momentos, quando há queda de frames, texturas lavadas e objetos com baixa contagem de polígonos. Isso é especialmente visível nas missões de tutoriais, que não são muito caprichadas.

As multidões estão presentes, mas ficaram ainda melhores, sem muitos rostos repetidos ou problemas graves de desempenho. O sistema de quadros por segundo é destravado, o que permite ao game variar dos 60 aos 30 frames durante a jogatina. Em áreas pequenas, a fluidez é maior, enquanto em ambientes abertos e com muitos elementos ela cai.

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Caso isso o incomode, é possível desabilitar essa opção no menu para ter uma experiência mais consistente. Durante os meus testes, pude jogar tanto a versão do Xbox One quanto a do PS4, e ambas são praticamente idênticas. No console da Microsoft, o título tem quedas abaixo dos 30 quadros nas missões de tutorial, mas em contrapartida se dá melhor que o da Sony na missão de Paris. Sem dúvidas, trata-se de um problema de otimização que deve ser corrigido com patches no futuro.

Vale a pena?

No final das contas, o reboot da série Hitman parece ser extremamente promissor e traz a franquia de volta às origens. Há muito conteúdo aqui e muito espaço para aproveitarmos ao máximo todo o playground de matança criado pela IO Interactive. Apesar do começo forte, ainda é uma incógnita se o nível de qualidade será mantido nos próximos episódios, já que temos apenas duas ou três horas de conteúdo. Todavia, tudo indica que poderemos ter um novo game para se equiparar a Blood Money.

O grande desfalque na primeira parte da experiência é uma história pouco cativante, que pode melhorar em breve. O ponto negativo já engessado, independente dos outros capítulos, é o sistema de detecção, que ainda não é refinado a um ponto realista. Apesar de não incomodar muito, vale a ressalva. Por ora, basta torcer que o título fique ainda melhor no futuro.

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Fontes

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