Ciência que se consolidou a partir dos anos 2000, a paleoproteômica estuda proteínas preservadas em materiais antigos, como fósseis, sedimentos arqueológicos ou restos subfósseis (ossos, dentes, conchas), para compreender a biologia, a evolução e a ecologia de organismos extintos.
Em um dos estudos mais representativos dessa técnica, iniciado em 2016, cientistas da Anglia Ruskin University (ARU) e do Imperial College London, ambos no Reino Unido, investigaram “como o câncer em dinossauros pode oferecer insights sobre a história evolutiva de doenças e estratégias de história de vida”.
Publicado recentemente na revista Biology, o artigo explica como a análise paleoproteômica de tecidos moles fossilizados pode revelar informações sobre a evolução do câncer em dinossauros.
A ideia central é preservar esses tecidos para futuras investigações moleculares que possam esclarecer como o câncer era desenvolvido ou suprimido em espécies extintas.
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Moldando o câncer em fósseis de milhões de anos
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A linha da pesquisa surgiu em 2016, quando o oncologista Justin Stebbing, da ARU, leu sobre a descoberta de um tumor ósseo benigno (ameloblastoma) na mandíbula de um Telmatosaurus transsylvanicus, dinossauro herbívoro que viveu entre 66 e 70 milhões de anos na atual Romênia. O achado despertou curiosidade sobre possíveis semelhanças entre cânceres antigos e modernos.
Em 2017, a equipe multidisciplinar obteve o fóssil e iniciou uma análise minuciosa. Usando uma broca extremamente fina, extraíram pequenas amostras do interior da mandíbula, buscando preservar o material. O procedimento permitiu investigar a estrutura óssea e possíveis vestígios moleculares, para entender a natureza da lesão no “lagarto do pântano”.
Utilizando microscopia de varredura avançada, pesquisadores identificaram estruturas semelhantes a glóbulos vermelhos, indicando a possível preservação de tecidos moles fossilizados. A descoberta amplia as possibilidades de estudar o tumor a partir de vestígios moleculares no que Stebbing chamou de “a carne do câncer”.
Importância da descoberta sobre tecidos moles fossilizados
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As descobertas revelam que tecidos moles e componentes celulares podem estar mais preservados em fósseis antigos do que se pensava. Identificando proteínas e biomarcadores conservados, cientistas acreditam poder obter informações sobre doenças pré-históricas, incluindo câncer, com potencial para influenciar futuros tratamentos humanos.
Em comunicado, Stebbing afirmou: “As proteínas, particularmente aquelas encontradas em tecidos calcificados, como o osso, são mais estáveis do que o DNA e menos suscetíveis à degradação e contaminação. Isso as torna candidatas ideais para estudar doenças antigas, incluindo o câncer, em espécimes paleontológicos”.
Estudar o DNA de dinossauros não é para trazê-los de volta à vida, diz Stebbing, mas pode esclarecer o papel ambiental no desenvolvimento da doença, informando melhores tratamentos atuais. Por isso, a equipe destaca a necessidade de conservação de fósseis de longo prazo para garantir o acesso "os espécimes adequados para investigações moleculares de ponta".
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